quinta-feira, 24 de março de 2011

Bilionários por Acaso: o livro é uma lamentável ode a misoginia em pleno século 21

Acabei de ler "Bilionários por Acaso", de Ben Mezrich. Surpreso e um tanto enojado pelo fato de, em 2009 (data de lançamento do livro), TODAS as mulheres retratadas no livro serem loucas, interesseiras, alívio sexual para os "gênios" de Harvard e do Vale do Silício.


Não existe uma mulher no livro que seja destacada por sua criatividade, talento ou competência intelectual. Mais: as asiáticas são apresentadas -SEMPRE- como "comidinha" fácil para os nerds que não conseguem as loiras da Ivy League.

Nem vou perguntar o que o autor acha de negras e latinas no mundo acadêmico top dos EUA. Lamentável. Se querem saber mais sobre a criação do Facebook como negócio revolucionário, sugiro o livro de David Kirkpatrick, “The Facebook Effect". Bom demais para virar filme blockbuster.

Fico imaginando uma menina de 14 ou 15 anos lendo esse livro, na ânsia de descobrir as entranhas do espaço online que toma a maior parte de seu dia conectada, e tentando projetar seu futuro fazendo diferença no mercado de tecnologia de informação de alto nível, nas melhores universidades do planeta. Além de matar um leão por dia, essas meninas terão que lidar com o estigma de não poderem ser bonitas, atraentes e charmosas sob risco de serem confundidas com "putas" dos campi. Imagem distorcidas, difíceis de serem modificadas.

Vale atenção paterna com essa leitura.

sábado, 19 de março de 2011

Como São Paulo quer acabar com a saúde das parturientes



Caros, o belo curso de obstetrícia da USP Leste está sendo extinto. Parteiros (sim, formou homens qualificados para ajudar mulheres no parto) e parteiras em formação, que ajudariam a reduzir o número imbecil de 99,42% dos partos em ambiente hospitalar em São Paulo, ficarão sem concluir o curso.

Os alunos estão putos, e com razão.

Tentei explicar isso para colegas europeus, asiáticos e americanos e o eles, chocados, perguntam se brasileiro ama hospital. É, ainda temos um logo caminho para melhorar a saúde da mulher por aqui, mas o "lobby das tesouras" não quer deixar.

Outros cursos serão remanejados. O único extindo será o de obstetrícia.

Não vou ficar quieto. Grite aqui.
http://www.abaixoassinado.org/assinaturas/abaixoassinado/8452/1

quarta-feira, 16 de março de 2011

Viagem de volta aos anos 70

Minha filhota mais velha (faz 10 anos em Abril) tem assistido desenhos e programas de TV com referências aos anos 70 e à era da "disco music", como Bob Esponja, Lazy Town, HSM, a animação dinamarquesa
 "Disco Ormone" (no Brasil, Barry e a Banda das Minhocas, estragando um ótimo título).
Disco_Ormene_Plakat_800x600.jpg

Curiosa, ela quis saber mais. Pensei em Saturday Night Fever, mas era muito barra pesada. Daí lembrei de um filme que vi moleque (1981), quase na idade dela, em um cinema-poeira em Guadalulpe, um bairro na pouco glamourosa zona oeste do Rio, onde cresci e vivi até os 14 anos de idade, antes de cair nas maravilhas do Jardim Botânico. 

Era "Até Que Enfilm é Sexta-Feira (Thank God it's Friday, de Robert Klane, 1978), uma produção da Motown (isso mesmo, a gravadora Soul).  No elenco, Debra Winger (acho que foi o primeiro longa dela), fazendo uma mulher "careta" maravilhosa, Jeff Goldblum (primeiro papel de destaque dele - acho que é o ator cuja carreira acompanho a mais tempo seguido, adoro) como dono de boate pegador, Donna Summer como a cantora de NY querendo um espaço em LA, os Commodores como os amigos do DJ (na época, discotecário). O resto do elenco sumiu nas sombras. As "valley girls", que roubam o dinheiro do irmão e vão para a Los Angeles disputar o concurso de dança também são clássicas.
"Let's Dance" (levou o Oscar de Melhor Canção) é o clássico do momento "ressurreição do herói" no filme, interpretado por Donna Summer no papel de Tina Sims. Mas durante uma cena com o Goldblum toca um cover em roupagem disco de "Je Taime Mon Amour", do fantástico Serge Gainsbourg acompanhado de Brigitte Bardot. A versão é uma merda, mas curti assim mesmo.

TGIF (é, o nome da rede de lanchonetes vem dessa corruptela) é um filme simpático e sintetiza bem as situações que poderiam acontecer em um clube noturno. As roupas, as músicas, as gírias, os costumes, está tudo lá e de ma forma não muito agressiva. Eu lembrava de cada frase do filme, cada momento bobo. E da hora do concurso de dança. Não aguentei e levantei para dançar com Lia. Ela morreu de rir, mas entrou na onda. Afinal, eu fora obrigado a aprender as coreografias de HSM 1, HSM 2 e MSM 3. Foi a minha vingança. Tive apenas que tourear as cenas onde uma mulher abandona a amiga (a caretona interpretada por Debra Winger) e vai para uma festinha no apê de um maluco, com mais 7 caras. Nada explícito, mas para mim, tudo muito claro. Também tem uma cena onde uma dentista alopra o marido careta de outra mulher (a que está xavencando Jeff Goldblum)  com seu kit de pílulas (bolinhas, na verdade: anfetaminas e calmantes), que me fizeram lembrar o colega de MTV, Luis Thunderbird, o odontólogo mais louco que conheci. Mas prefiro explicar do que ficar com cara de trouxa daqui a alguns anos.

Foi legal ver, com ela, como o mundo, os xavecos, as situações da vida eram resolvidas sem celular, sem internet, sem redes sociais. Mas que alguns valores. "micos" e anseios continuam os mesmos 30 anos depois.

Um mês antes tínhamos assistido juntos ao filme BIG, QUERO SER GRANDE (BIG), com Tom Hanks. Constatei que no meio da década de 80 o tema mais importante para a molecada era o sexo. Crescer para trepar. Não me causa surpresa. A cena deles passando pelos puteiros de NYC é forte, assim como a situação no hotel. E todo mundo fumava!!! Filmes juvenis de hoje jamais chegariam tão longe.

Ter esse elo de ligação com o meu passado, com minhas referências pop é uma forma legal de fazê-la perceber um dos elementos que fizeram parte da construção da minha identidade.

Fico imaginando Lia mostrando Lady Gaga, Paramore, Restart e Justin Bieber para os filhos dela.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Gerações

Lia e o avô curtindo uma sessão de slides dos anos 70, em plena segunda-feira de Carnaval.

foto: Felipe B


Na parede, calças bocas de sino e a infância da mãe. Como a simplicidade pode trazer poesia para a vida em um mundo repleto de traquitanas tecnológicas.

Garota Radical...Mesmo!



deve ser um babaca. Chorou com o trailer de "Soul Surfer". Gostar de Bethany Hamilton é fácil. Difícil é imaginar isso acontecer com sua filha quando ela está fazendo a coisa que mais gosta no mundo. Aqui em casa os filmes Blue Crush e Nalu são inspiradores. "Soul Surfer" não ficará atrás.

Em tempo: por aqui também temos um exemplo de superacão, dentro e fora do mar. O surfista Pauê, hoje fisioterapeuta e triatleta, passou pelo drama de perder as pernas para um trem.

A história dele está nesse link.

valeu pela dica, Raquel.

O Filho do "Animal"

Fiquei feliz hoje ao ler uma notícia dos bastidores de um desses camarotes de cervejaria.

O irascível jogador Edmundo, que carregou a alcunha de "Animal" por suas atitudes dentro e foram de campo, demonstrou que ser homem é muito mais do que sair por ai brandindo conquistas.

Ao afirmar o seu amor pelo filho, que se declara homossexual e por isso não tem o carinho da mãe, Edmundo abre um espaço importante de reflexão junto a um público que acha ser aceitável maltratar pessoas por suas opções sexuais.

Para um filho, ler uma declaração como essa pode mudar muita coisa. Assegura umm caminho em busca da auto aceitação, da auto estima.

Para mim, o melhor gol da vida pública de Edmundo. Curti.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Devolva-me

amo. foto: Felipe B, 2010.




















O assunto veio à tona em comentário sobre os mitos da amamentação no blog da amiga Zel. Pensar fora da caixa faz muita gente ficar fora do eixo e esquecer de colocar em foco assuntos importantes na vida conjugal.

Tendo passado por esse processo duas vezes, com reações e aprendizados diferentes em cada ocasião, acredito que cabe iniciar uma reflexão a respeito (no pun intended).

Com exclusão dos casais homossexuais masculinos (que não enfrentam os dilemas do pós parto e amamentação, seja em barrigas de aluguel, seja em adoção), todas as outras combinações conjugais passam pelos dissabores da posse do bico do seio.

Mais do que sabido é o fato das mudanças hormonais provocarem modificações físicas e emocionais importantes. Em muitos casos, nem a penetração pode ser cogitada, tal o estado de ∂úvida ao qual o corpo é submetido. A quem ele pertence? Ao bebê? Ao pai? A escrutínio alheio?

"Esse corpo, esse peito, essa buceta são meus, mulher e mãe! Devolva-me!", gostaria de vê-las gritar.

Mas não é fácil. Sabemos que não.

Naturalmente, devemos leva-las em consideração. Mas existem aspectos culturais que estão profundamente enraizados e que fazem homens e mulheres perpetuarem mitos, mesmo que não queiram.

Quando a mulher recusa acesso ao bico do peito de forma erótica existem desculpas prontas para não faze-lo: higiene, dor, falta de sensibilidade, dedicação total ao rebento, nojo. Muitos cônjuges, homens e mulheres (no caso de casais lésbicos), notadamente os mais jovens, tendem a introjetar conceitos semelhantes: se deixam levar pelas alterações físicas de cor e forma para justificar sua aversão ao toque, seja com a boca, seja com as mãos, pênis ou vagina.

Grande parte daquela erotização do casal, que levou à gestação ou ao pacto entre duas mulheres de recorrer a inseminação artificial acaba perdida em meio a pensamentos antiquados e preconceituosos.

E a parte fêmea dessa equação acaba sendo penalizada. Primeiro, por não ter a clareza de como ou quando deseja retomar o uso do próprio corpo e não considerar essa discussão algo pertinente a casal. Por outro lado, alguns cônjuges vão se deparar com situações atípicas na sexualidade pré gestação.

Casais que tiveram vida sexual ativa até o parto, mesmo com lactação precoce, podem ter soluções divertidas e interessantes para compartilharem. Mas e o tabu de conversar sobre sexo? Sobre vida feliz? Sobre prazer? Como tem gente que enxerga na barriga dilatada fantasmas que coibem o desejo.

Pode ser que nem queiram saber o quanto e como você gozou durante a gravidez. Pena.

Algumas mulheres ficam menos sensíveis e desenvolvem o gosto por toques mais vigorosos, que estimulem de forma mais intensa os mamilos. Até a nova forma dos mesmos ajuda a construir uma nova personificação erótica, que pode ficar submetida a um rigor moral. Aquele fantasminha da vergonha de ser classificado como curtidor de BDSM fica rondando...

Se conversar sobre toques no grelo e outros aspectos da sexualidade ainda são tabu para alguns casais mesmo antes da gestação, imagine o choque de alguns parceiros(as) ao perceberem suas mulheres interessadas em uma nova forma de usar o corpo, fora dos padrões aos quais estavam acostumados.

Sim, existe prazer na relação com a dor. Nem todas ficam mais sensíveis e rejeitam o toque. Aquelas que o fazem, talvez estejam querendo outra forma de interação, de troca, de estímulos. Se a dor e sensibilidade extra as incomodam, precisam ser respeitadas, ouvidas em sues desejos -alguns insuspeitos- e não desestimuladas aos jogos eróticos.

Acusar o outro de sabotador no auge da sensibilidade não parece ser uma medida inteligente sob nenhum aspecto, tendo em vista a busca por uma família harmônica.

É preciso entender que existem mulheres que desligam o modo “erótico” dos seis por uma questão de praticidade. O caso de amamentar em público é um desses. Se a noção coletiva de respeito ao “estado” da lactante parece ser senso comum, no íntimo sabemos que existem muitos homens e mulheres que apreciam uma mama cheia, com mamilos proeminentes, túrgida, bela em suas formas ampliadas. E nem todos (as) conseguem desviar o olhar. Se a mãe não se sente confortável com isso, é natural que crie defesas. É um direito dela.

Outra distorção moderna que pode atrapalhar de forma cruel é o mito da estética do peito. Motivada pelas imagens de celebridades cujo os peitos nunca caem, existem moças que logo ao pararem de amamentar entram na paranóia de clarear os bicos de forma artificial ou fazer cirurgia estética das mamas. Pressão de mães, amigas (?), de maridos e “maridas” (sim, leitora, no mundo das moças, alguns arquétipos também estão presentes, e de forma bem intensa e conservadora) para que se chegue ao que o outro considera o corpo “ideal”.

Perde-se a essência de vivenciar o corpo da parceira transformado pela geração de vida. Busca-se desesperadamente o “estágio anterior” da relação através da retomada do corpo antigo. Se não um erro em sua essência, tal comportamento mergulha no tanque dos equívocos.

A mulher é soberana para decidir sobre o destino e o uso de seu corpo. Mas não deve ficar soterrada sob teorias e conceitos arcaicos, que em nada ajudarão na relação dela com o filho ou parceiro(a).

Que fique claro desde cedo que “mamãe goza e quer ser feliz”. E se tiver que usar o peito “sagrado” para isso, logo, durante a amamentação, que assim seja.

Seja feliz com seus bicos.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Mochilas: a casa nas costas

Nem bem foi completado um mês de aulas e as mochilas das meninas já viraram um mafuá. A política de colocar tudo dentro delas "para não esquecer as coisas" revelou-se um equívoco. O peso que carregam e a falta crônica de espaço útil faz com que o simples ato de colocá-las nas costas seja um estorvo.

O colégio possui armários, mas cobra um aluguel patético para o uso. O melhor então será ver com as molecas o que realmente será preciso carregar diariamente.

Vou torcer para não encontrar nada bizarro dentro das mochilas hoje a tarde, como pontas de lápis (tá rindo? minha filha coleciona!), chicletes, areia e todo tipo de material sem classificação.

Depois posto o resultado das análises.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Um pedido humilde e ingênuo no país de pais assassinos.

Como Pai de Menina, de criança, eu tenho o sonho ingênuo de ver minhas filhas crescerem ser ter que construir a dureza de um soldado ou a astúcia de um agente policial apenas para poderem existirem, vivenciando suas infâncias como eu pude.


Se existisse alguma entidade para a qual eu pudesse apelar, terrena ou não, eu teria pedidos.

Pediria que de hoje até o fim dos dias que nenhuma criança fosse assassinada, seja em guerras, seja por terrorismo, seja no trânsito (sem contar os motoristas bêbados, todo dia vejo filhos da classe média no colo de um adulto, no banco da frente. Ou sem cadeirinha adequada no banco de trás), seja por vingança, como essa menina de 6 anos, no Rio de Janeiro.


Pediria que nenhuma criança fosse jogada em valões e latas de lixo ao nascerem.

Pediria que ao invés de bolsas-familia e outros tapa-buracos com objetivo eleitoral, que investíssemos em educação para tirar a maior parte de nossa população da Idade Média.

Tente explicar a quantidade de crianças achadas no lixo diariamente (apenas os casos publicados em jornais) no Brasil a um amigo que more em um lugar civilizado. Vai ser chamado de mentiroso sensacionalista.

Em uma semana o Rio de Janeiro viu três assassinatos de crianças. Todas poderiam estar vivas. Não existe justificativa para essas mortes e os responsáveis, pais e mães, devem ser responsabilizados. Todas as mortes envolveram familiares.

Enquanto isso a presidenta vai fazer omelete na TV.

Sintomático.

terça-feira, 1 de março de 2011

E SE FOSSE A SUA FILHA? OU COMO A COVARDIA CRIA RAÍZES

Estou puto com o caso do criminoso de Porto Alegre, ainda mais agora que a edião do dia 28/2 do Jornal Nacional praticamente inocentou o sujeito (dica: jamais trate seus problemas juridicos - civeis ou penais-, na TV, a não ser que seja ao vivo. Edições podem destruir seus argumentos).

E ciente da memória curta do brasileiro para crimes de gente poderosa, lembro que o monstro Pimenta Neves ainda está livre. Enojam os depoimentos em seu site (isso mesmo: assassino com site - veja só!) que tentam justificar o assassinato covarde, a tiros, de uma mulher. O fisiologismo das redações revelado de forma crua, já que beneficiados por sua imensa bondade em imbróglios trabalhistas veem nele um herói. Mulheres inclusive.

A pergunta que fica é: e se fossem suas filhas assassinadas com tiros nas costas, sem chance de defesa? Você defenderia esse monstro para deixá-lo em liberdade?

Por isso defendo minhas meninas com unhas e dentes. E, sim, quero fazê-las acreditar em justiça o Brasil. Mas está difícil...