sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Do orgulho

Não vou me alongar no tema, tampouco sustentar polêmicas vazias: chorei nos trailers de "Pantera Negra". Todos. Vou chorar no filme, o qual assistirei com minha prole. Ser preto também tem dessas alegrias, saca? Obrigado, Stan Lee. Obrigado, Jack Kirby. E MUITO OBRIGADO, Ryan Coogler.

Sobre chorar no cinema: fui ver "The Martian" após ler o livro, uma deliciosa obra de nerd amador em literatura, sem preocupação em introduzir personagens e suas origens/ motivações. Tomo, de cara, uma porrada: Chiwetel Ejiofor como "Vincent Kapoor" (no livro, Venkat Kapoor, achei que veria um ator indiano). Wow. Chefe da porra toda...

As cadeiras D-Box tremendo, eu já todo orgulhoso ao lado de minha filha e entra em cena Donald Glover (na carreira musical, Childish Gambino) como o astrofísico Rich Purcell...

Para vocês pode ser bobagem, mas quem passou a infância vendo preto na TV quase sempre como empregados domésticos, favelados, bandidos e escravos na nossa fraca teledramaturgia, foi uma porrada que me levou às lágrimas, mesmo eu tendo tido meus minutos de fama na TV nos anos 90.

Eu chorei com gosto. Vibrei com os cálculos da "manobra Purcell", um júbilo da astronavegação ficcional que salvaria o herói da trama. Escrevo e lágrimas escorrem novamente.

Minha irmã não viveu para ver Pantera Negra, fanática por comics como era (aprendi com ela, roubando exemplares da imaculada coleção de gibis). Eu vou assistir. Vou berrar. Eu te amo, minha irmã. Wakanda Forever! Elisa Barcellos Forever!

domingo, 14 de janeiro de 2018

Nos bicos. É.

Lá vai ela tomar sol nos bicos. Vá junto. Deliciem-se. Sacaneiem-se muito e mutuamente. #gravidez NUNCA foi impeditivo para putice extrema.

Tua barriga, teu gozo

Isso vale para o #sexo na #gravidez. Não faça como as #DonaRegina do passado: parceira ou parceiro não querem te foder? Dê para quem quiser! Peça exames, afaste DSTs e HIV do cardápio e vá ser feliz! Serão longos nove meses. Alguma diversão erótica você merece.

Grávida goza. E muito, tá?

Aos ciumentos violentos de plantão: #grávida também goza (e muito), tá? Até a hora do parto, se der tesão. Seu "papel de homem" não termina na inseminação, pateta. PS: também vale em casos de inseminação artificial em casais de moças. Dê a devida atenção a quem te olha pedindo toque e não para ser tratada como cosplay da virgem Maria.

sábado, 23 de setembro de 2017

"Poder para o povo preto. E sem mimimi", por Felipe Barcellos

"Poder para o povo preto. E sem mimimi", por Felipe Barcellos/ Felipe Barcellos
Bem, você decidiu que quer ajudar os pretos a serem felizes nesse país malvado. Vamos ao tutorial:
- Ao invés de postar sobre #negrodrama e as mesmas merdas de sempre, aproveite o mesmo espaço para alavancar histórias positivas, de vitória, de sucesso de PRETOS de TODAS AS CLASSES SOCIAIS!
- EVITE histórias de pretos com talentos extraordinários, nas artes ou nos esportes. São moscas brancas (no pun intended). Privilegie conteúdos que alavanquem e estimulem a molecada a seguir exemplos atingíveis com educação, perseverança e vontade.
- Para cada história de preto se fodendo, por favor, tenha o cuidado estratégico de postar cinco histórias de pretos em situações positivas. A dinâmica das mídias sociais fará as histórias positivas chegarem a cada vez mais pessoas.
- Histórias positivas tem um enorme poder de modificar percepções. Uma criança (branca ou preta) que cresce só vendo preto se foder, dificilmente crescerá sem ter a visão do preto como seres humanos eternamente em necessidade de ajuda. Por isso é uma merda ter crianças impactadas com aqueles anúncios dos Médicos Sem Fronteiras e afins: a repetição forma o padrão. E um padrão perigoso, que torna o preto vitorioso e bem sucedido em suas escolhas sempre a exceção e nunca o padrão.
- Não, não e não para mimimis como "turbantes só para pretas", "denegrir" e "nega do cabelo duro": isso é um puta desvio do cerne da questão e só serve para que discussões realmente importantes sejam suplantadas pela jocosidade que toma as mídias sociais.
- TODA vez que pensarem em usar a frase "quem disse que não existe racismo no Brasil...", pensem duas vezes e postem uma lista com três livros de autores pretos -mulheres e homens-, que tenham efetivamente  lido ou que tenham sido publicados recentemente.
- Poste feitos de um preto brilhante e genial por dia, mulheres e homens. Deixe os algoritmos fazerem o resto.
- Quando forem reclamar que "não tem preto no cinema" lembrem-se do cinema nigeriano e seus lançamentos semanais, disponíveis online.
- A coisa mais importante na vida dos pretos NÂO é reclamar do infortúnio de ter uma cor de pele açoitada pela ignorância (em casa e na rua). Nós amamos, comemos, dançamos (e as vezes "músicas de brancos", veja só...), brigamos, traímos, fazemos descobertas científicas revolucionárias, fazemos merda pra caralho, erramos, acertamos, nos emocionamos, gostamos de carros zero quilômetro, relógios caros, bons vinhos, temos preguiça de emboçar a casa e preferimos uma TV grande a uma estante de livros, às vezes. Em resumo, somos pessoas normais.
- Se quer realente ajudar os pretos a obterem reconhecimento, espaço, relevância social, ocupação profissional e capacidade reforçada de luta contra a intolerância, em hipótese alguma repita frases e conceitos burros como "apropriação cultural". O esvaziamento de qualquer discussão produtiva quando essa frase surge é um desserviço.
- Pretos pobres e pretos ricos podem e devem ter a orientação política e sexual que bem entenderem numa democracia do século XXI. Se você acha que frases como "só no Brasil existe preto de direita" (SIC) ou "só no Brasil existe pobre de direita" ou "não pode ter preto viado" são corretas, você é no mínimo burro. E mal informado, (ou intencionado...), principalmente quanto as questões sociopolíticas do continente que mais tem pretos no mundo, a África. Partido ou ideologia alguma pode ter o monopólio dos pretos e suas causas. Não seja imbecil em seu papel de "feitor da esquerda".
- JAMAIS, em hipótese alguma, fale de quilombos como "espaços de resistência" e automaticamente ligue a favelização urbana àquela forma de organização social escravocrata. Estude.
- Ao contrário da crença popular, existem milhares de livros sobre a história do preto, antes e depois da colonização do Novo Mundo. No Brasil, perpetuou-se o mito da "tradição oral", afastando a curiosidade da criança e do jovem preto de buscar leituras que possam esclarecer e ilustrar suas origens.
- Lembre-se que existem no mundo trocas culturais e sócio econômicas entre povos pretos e civilizações milenares na Ásia (e no que hoje chamamos de Europa) MILHARES DE ANOS antes de existir tráfico negreiro transatlântico e o futuro "Brasil". O resgate e disseminação desse contexto histórico é vital para que novas gerações de pele preta tenham a dimensão de pertencimento global, e não apenas a herança escravocrata nas plantations e minas do Novo Mundo como referência existencial.
Por enquanto é só. Poder para o povo preto. E sem mimimi.


Por enquanto é só.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Não  sou mais "marido". Agora, apenas pai. Não é  pouco. Recomeço do zero, sem mimimi. Uma vida para tocar. Filhas para educar. Falarei sobre os percalços dessa nova fase por aqui.

sábado, 4 de julho de 2015

Ódio racial e preconceitos não escolhem classe social. O Brasil é um país doente.

Minha filha estuda em escola pública. A maioria das crianças mora em favelas aqui da Barra da Tijuca. Mudamos de escola (também municipal) pois na anterior, detentora do maior IDEB, minha filha sofria agressões das alunas e assédio moral da professora, que acahava normal chamar as crianças de "favelados" ou "bichos que precisam de domador".

Na escola nova, um espaço mais humano. Ainda assim, bastou Dora destacar-se por ser articulada, curiosa e sempre responder ao que a professora pergunta em sala. Quinta-feira um outro aluno, de 9 anos, incomodado com o protagonismo e empoderamento de minha filha,  achou conveniente abordá-la no recreio e dizer: " só não te bato por você não ser da minha cor".

Imagine como não são as relações na vida dessa criança. O que vê da postura do pai, mãe, família (sabe a tia preconceituosa que você não contesta quando fala merda nas reuniões sociais? Pois é...) e vizinhos.

Por isso, antes de compartilharem hashtags e abrirem a boca para repetir o bordão imbecil "menos cadeias, mais escolas", lembrem-se que criança na escola NÃO significa um bandido a menos em formação. Escola só funciona se o círculo familiar e social da criança proporcionar uma base moral, social e intelectual sólida e multiplicável na própria comunidade. Caso contrário, a escola não serve para nada. Não é obrigação dos docentes fornecer princípios básicos de cidadania e respeito ao próximo. De certo ou errado. Pouco adianta a escola reforçar valores que serão jogados no lixo já na condução para casa e desacreditados pela família e amigos.

Vocês não fazem ideia de quanta gente pobre, fodida, que vive em lugares sem condições mínimas de cidadania, mulheres e homens, acha normal bater em mulher, matar homossexuais, humilhar e maltratar pretos. Gente que achou legal as ofensas à Maju.

Por isso, mais importante do que achar os culpados de ocasião, é parar de tapar o sol com a peneira e achar que somos democracia racial e que a luta é das elites contra o proletariado. O ódio irracional está entranhado em todo o tecido social. Só espera uma oportunidade para manifestar-se.

Caiam na real.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

E quando as mulheres exercem pequenos poderes nefastos, já tem nome em inglês?

Quando uma mulher...

- impede uma subalterna (ou parceira) de concluir uma frase... (isso, vamos lembrar de relações mãe/filha, orientadora acadêmica/ mestranda, relação "patroa" e faxineiras/ frentistas/ empregadas domésticas/ depiladoras/ atendentes do McDonalds, toda sorte de moças pretas –independentemente da formação intelectual, educacional, classe social, posição profissional e orientação sexual–, e outras mulheres "invisíveis"...)

- apropria-se da ideia e leva créditos por colegas de trabalho de qualquer gênero...

- Faz outras pessoas, de qualquer gênero, sentirem-se como crianças ao receberem uma explicação...

- convence outra pessoa, de qualquer gênero, que ela está louca ou enganada sobre algo do qual tinha certeza...

Chamaremos como? Womanterrupting, womanplagiarism, womanspreading, womanslaping, gaslighting?

Evidentemente, existem especificidades, mas dentro das relações de poder, seja na vida pessoal/seja na vida corporativa, essas questões suplantam as questões de gênero.

Hora de abrir a cabeça, unir forças e pensarmos em soluções globais de melhorias inter sociais duradouras (educação e cultura popular), multiplicáveis (aparelho midiático), sustentáveis (trocas horizontais, sem ódio retroativo, mas mutuamente compreensivas) e respeito entre humanos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O Gênio das #Cotas contra a #meritocracia

A menina vê algo reluzente boiando com a merda, no valão de esgoto diante do barraco no qual "vive" (?), alegremente, com oito pessoas em dois cômodos. Ela mergulha na agua fétida e descobre uma lampada mágica. Ciente do mito, que já conhece não dos livros ("coisa inútil, perda de tempo", segundo seu pai...) mas sim do DVD pirateado da Disney, não tarda a esfregar o objeto e invocar o "gênio das #cotas": "Menina tola, obrigado por me libertar. Em troca, lhe darei o direito de passar o dia na LAN house só jogando e nas redes sociais, sem fazer cursos livres e buscar informações. Também vou dar-lhe o direito de entrar na universidade sem ter que ler nenhum livro ou ser capaz de interpretar textos. Por último, vou considerá-la incapaz de estudar por conta própria e obter capacidade intelectual para resolver os problemas de sua vida e percalços de sua trajetória, balizada por seus próprios méritos. Use seu gênero,  sua origem e a cor da pele como desculpa para não ascender e livrar-se da guetificação, do corpo e das ideias. A partir de hoje você será "vitima" para o resto de sua vida.".

É. Estão construindo um país com essas premissas. A turma que tapa o sol com a peneira conseguiu transformar a #meritocracia em problema. Sintomático.