sábado, 11 de abril de 2009

Ideias selvagens: entre jacarés, piranhas, crimes e comentários carolas.



(Rio, Recreio dos Bandeirantes) - Jacaré no Canal das Tachas, última parada antes da praia deliciosa que minha família curte unida. foto: Felipe B, Abril 2009


Vida entrando no eixos aqui no Rio, e entre mergulhos no mar, esquivando-me das matanças nas ruas da zona sul carioca e dos simpáticos e enormes jacarés nas ruas do meu bairro, agora tenho tempo para voltar aos posts e fazer algumas considerações.

Como devem ter percebido os leitores mais atentos, não faço réplicas aos comentários, tampouco apago as agressões e textos inconvenientes.

O motivo é que acredito ser aquele um espaço dos leitores, ávidos por refletirem sobre o que foi publicado.

Deixar os comentários livres para a leitura de todos também permite que tenhamos contato com a lucidez e livre pensamento de quem usa os meios digitais.

Ao mesmo tempo, constatamos que a livre circulação de idéias não impede que antigos dogmas e crenças sejam o esteio sócio-moral de um número imenso de pessoas, unidas e movidas pelo medo de mudar, de pensar diferente.

Os comentários mais agressivos foram propagados por dogmas e crenças religiosas, que, no Brasil, ganharam força de lei.

Nosso Estado (que deveria ser laico) foi erguido com base na conivência criminosa entre a mão de ferro e impiedosa da igreja católica e o poder político.

Lendo alguns comentários no post sobre o arcebispo de merda que queria destruir a vida e o futuro de uma garotinha de nove anos, vemos em 2009 gerações criadas sob o medo de deus (em caixa baixa, sempre, como notou uma leitora), culminando com o irracional culto à virgindade mariana.

Ela seria uma mulher deplorável ou Jesus (não, não é o da Madonna...é o outro, que parece o Romário, segundo estudos recentes) não seria um homem de valor se ela tivesse gozado muito e sacanamente - com José ou outras Marias - (ter mais de uma esposa era tradicional naquela região) durante a série de relações carnais, sob o céu estrelado (e sob os olhos de deus, vouyer, onipresente), animdas por música pagã e ânforas do excelente vinho local, levando a gloriosa esporrada que gerou o`Cara?

E pior do que o medo e o descarte da biologia da reprodução como algo divino, a cegueira em relação ao livre arbítrio, que gera comportamentos absurdos, tirando de nós a resposabilidade pelos nossos atos.

Gente obtusa, que vive acreditando que "só cristo salva" (maça+S também...), como um ingênuo leitor que, em seus doces comentários, acredita mesmo que balbuciar singelas orações em português diante de uma ameaça de morte violenta poderiam salvá-lo no último momento. Ou ajudar muito naquela prova de matemática para a qual não estudou.

Não temo deus. Tenho pena de gente que faz de algumas religiões, em particular as baseadas no cristianismo, uma bengala doutrinária, que prejudica milhões, que matou outros tantos milhões em nome de seu deus, que ignora a existência humana e geração de conhecimento antes do nascimento de Jesus.

Gente incapaz de entender a cultura judaica, o islã, as manifestaçõe espirituais africanas, polinésias e hindus. Gente que aceita santos cheios de nomes, roupas coloridas, realizações duvidosas, mas rejeita a beleza do animismo e das tradições espirituais matriarcais das culturas ditas pagãs, centralizadas em mulheres da antiguidade que não renegavam seus corpos, seu direto de gerar e manter a vida, de gozar e de comandar povos. Coisas que muitos incautos atribuem ao feminismo e a modernidade pós-industrial.

A igreja católica ajudou, sistematicamente, a apagar parte importante da história social, cultural e da intimidade da humanidade. Apoiou abertamente as principais iniciativas históricas de genocídio. Sim, matou gente em nome de deus.

Criou o papel da "mulher de segunda" na sociedade ocidental moderna.

É possível conceber uma existência na qual a voz da mulher seja de importância secundária? Vou deixar minhas filhas acreditarem em tal sandice? Quando minhas meninas perguntarem o motivo de não existirem mulheres ministrando missas e comandando o sacerdócio católico direi que o motivo é a violência do masculino sobre o feminino do cristianismo praticdo pela igreja (longe daquele que surgiu pelas palavras d`OCara).

Essa gente (?) agora quer atacar também a opção sexual das pessoas.

Justificaram a agressão aos negros e outros povos ao longo da história. Não tinhamos alma. Precisávamos de salvação divina.

Imagina, cultuavamos o sol? Bárbaros que eramos, navegavamos pelo mundo, sabendo ser a terra esférica. Mas não tinhamos alma e podíamos ser escravizados, em nome de deus.

Calaram-se diante da morte em massa de mulheres, crianças e homens judeus, 65 anos atrás. Históricamente, ontem. Hoje.

Calam-se hoje, 2009, aos massacres no Congo e Sudão. Choram pelas igrejas velhas que um fenômeno natural destruiu na Itália essa semana.

Agora, investem pesado naqueles que escolheram amar seus iguais. E aqueles que não conseguem pensar, repetem o preconceito aprendido na igreja, justificando-o como castigo de deus.

E pensar, que na época de meus antepassados, apenas não tinhamos direito a ter alma...

Tudo para não perder o poder, o enclave do Vaticano, a riqueza. A palavra do homem. A aniquilação do feminino.

Assim, eu, abertamente, critico o catolicismo, formalizado de forma cruel pela igreja católica no Brasil.

Os coloco no patamar mais podre de nossa composição social, pois colabora de forma inexorável para um país como o nosso continuar gerando favelas, pobreza, fome, população de rua, burrice, analfabetismo e toda sorte de mazelas que tornam a maior parte da população incapaz de gerar cultura, de pensar por conta própria, de refletir sobre o que lê (quando lê) e sobre o que lhe foi ensinado ao longo da vida. Não. Não podem pensar, imaginar, construir teses e idéias. Antes de tudo, precisam respeitar deus. Fala sério, não é?

Deixa esse povo ficar curtindo supostas noticias de 20 segundos sobre acontecimentos do mundo, do cotidiano, recitadas em forma de jogral por um carismático casal de apresentadores. Boa noite.

A força das palavras dos homens de batina é tanta, que até ícones da cultura popular de massas (que poderia ser rebelde, iconoclasta, iluminadora) como MVBill e o grupo paulistano Racionais, ambos capazes de criar uma revolução sem precedentes em suas comunidades, colocam tudo a perder quando citam deus e jesus em suas músicas, colocando-os acima de tudo (como ensinado pelo medo de seus pais) e mantendo os seus presos ao universo da favela, da pobreza, do gueto.

Como pode um homem negro, hoje, aceitar ser batizado na igreja católica? Lavagem cerebral. O mesmo deus que apoiou e financiou o comércio de escravos, tortura, matança, estupros de nativos negros da Africa.

Que nossos jovens da periferia não esqueçam que aquele deus humilha e manda matar em nome dele. E que esse viés jamais é ensinado nas aulas de catecismo, nas paróquias e pastorais espalhadas pelo mundo.

É dessa forma que encaro aqueles hipócritas que proferem ameaças nos comentários de um blog.

São burros demais para merecerem respostas.

De volta a programação normal.

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