sábado, 4 de julho de 2015

Ódio racial e preconceitos não escolhem classe social. O Brasil é um país doente.

Minha filha estuda em escola pública. A maioria das crianças mora em favelas aqui da Barra da Tijuca. Mudamos de escola (também municipal) pois na anterior, detentora do maior IDEB, minha filha sofria agressões das alunas e assédio moral da professora, que acahava normal chamar as crianças de "favelados" ou "bichos que precisam de domador".

Na escola nova, um espaço mais humano. Ainda assim, bastou Dora destacar-se por ser articulada, curiosa e sempre responder ao que a professora pergunta em sala. Quinta-feira um outro aluno, de 9 anos, incomodado com o protagonismo e empoderamento de minha filha,  achou conveniente abordá-la no recreio e dizer: " só não te bato por você não ser da minha cor".

Imagine como não são as relações na vida dessa criança. O que vê da postura do pai, mãe, família (sabe a tia preconceituosa que você não contesta quando fala merda nas reuniões sociais? Pois é...) e vizinhos.

Por isso, antes de compartilharem hashtags e abrirem a boca para repetir o bordão imbecil "menos cadeias, mais escolas", lembrem-se que criança na escola NÃO significa um bandido a menos em formação. Escola só funciona se o círculo familiar e social da criança proporcionar uma base moral, social e intelectual sólida e multiplicável na própria comunidade. Caso contrário, a escola não serve para nada. Não é obrigação dos docentes fornecer princípios básicos de cidadania e respeito ao próximo. De certo ou errado. Pouco adianta a escola reforçar valores que serão jogados no lixo já na condução para casa e desacreditados pela família e amigos.

Vocês não fazem ideia de quanta gente pobre, fodida, que vive em lugares sem condições mínimas de cidadania, mulheres e homens, acha normal bater em mulher, matar homossexuais, humilhar e maltratar pretos. Gente que achou legal as ofensas à Maju.

Por isso, mais importante do que achar os culpados de ocasião, é parar de tapar o sol com a peneira e achar que somos democracia racial e que a luta é das elites contra o proletariado. O ódio irracional está entranhado em todo o tecido social. Só espera uma oportunidade para manifestar-se.

Caiam na real.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

E quando as mulheres exercem pequenos poderes nefastos, já tem nome em inglês?

Quando uma mulher...

- impede uma subalterna (ou parceira) de concluir uma frase... (isso, vamos lembrar de relações mãe/filha, orientadora acadêmica/ mestranda, relação "patroa" e faxineiras/ frentistas/ empregadas domésticas/ depiladoras/ atendentes do McDonalds, toda sorte de moças pretas –independentemente da formação intelectual, educacional, classe social, posição profissional e orientação sexual–, e outras mulheres "invisíveis"...)

- apropria-se da ideia e leva créditos por colegas de trabalho de qualquer gênero...

- Faz outras pessoas, de qualquer gênero, sentirem-se como crianças ao receberem uma explicação...

- convence outra pessoa, de qualquer gênero, que ela está louca ou enganada sobre algo do qual tinha certeza...

Chamaremos como? Womanterrupting, womanplagiarism, womanspreading, womanslaping, gaslighting?

Evidentemente, existem especificidades, mas dentro das relações de poder, seja na vida pessoal/seja na vida corporativa, essas questões suplantam as questões de gênero.

Hora de abrir a cabeça, unir forças e pensarmos em soluções globais de melhorias inter sociais duradouras (educação e cultura popular), multiplicáveis (aparelho midiático), sustentáveis (trocas horizontais, sem ódio retroativo, mas mutuamente compreensivas) e respeito entre humanos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O Gênio das #Cotas contra a #meritocracia

A menina vê algo reluzente boiando com a merda, no valão de esgoto diante do barraco no qual "vive" (?), alegremente, com oito pessoas em dois cômodos. Ela mergulha na agua fétida e descobre uma lampada mágica. Ciente do mito, que já conhece não dos livros ("coisa inútil, perda de tempo", segundo seu pai...) mas sim do DVD pirateado da Disney, não tarda a esfregar o objeto e invocar o "gênio das #cotas": "Menina tola, obrigado por me libertar. Em troca, lhe darei o direito de passar o dia na LAN house só jogando e nas redes sociais, sem fazer cursos livres e buscar informações. Também vou dar-lhe o direito de entrar na universidade sem ter que ler nenhum livro ou ser capaz de interpretar textos. Por último, vou considerá-la incapaz de estudar por conta própria e obter capacidade intelectual para resolver os problemas de sua vida e percalços de sua trajetória, balizada por seus próprios méritos. Use seu gênero,  sua origem e a cor da pele como desculpa para não ascender e livrar-se da guetificação, do corpo e das ideias. A partir de hoje você será "vitima" para o resto de sua vida.".

É. Estão construindo um país com essas premissas. A turma que tapa o sol com a peneira conseguiu transformar a #meritocracia em problema. Sintomático.