terça-feira, 2 de junho de 2009

Apertem os cintos...o bom senso sumiu



Dani não gosta quando sugiro viajarmos separados com as crianças, quando o transporte é aéreo.
Sempre cedi, mas agora vai virar regra: cada um viaja com uma filha.
Por essa terras é tabu falar em morte, em precauçoes e prevenção. Traz energia, diriam os medrosos ou esotéricos de novela das 8.

Eu não quero que meus filhos fiquem orfãos de pai e mãe ao mesmo tempo.

Outras dirão: - mas pode acontecer com qualquer um, em qualquer lugar....

Pode. Mas não vai. Não sou qualquer um. Bilhete aéreo é caro pra cacete.

Nos últimos 30 anos a indústria aeronautica, aliada as companhias aéreas e a novidadeira indústria do turismo, gastaram os tubos tentanado nos convencer da segurança das viagens aéreas dentro de uma tempestade sobre o Oceano Atlântico.

Nunca foi seguro.

Bombardeados pela propaganda, que impoe aos leigos o mito da sofisticação tecnológica dos aviões como guardiã de nossa vida, achamos normal voar para la e para cá em grandes latas ocas de alumínio e plástico, recheadas,com gente e bagagem. Sustentando tudo isso, mais alumínio oco e cheio de gasolina de aviação. As asas...

Na cabine, tres figuras sobre as quais nada sabemos, até o speech antes da decolagem. Não tenho como saber se ele ou ela beberam antes de checar os sistemas do avião, se discutiram no trânsito, se estão com TPM, ou se descobriram algum caroço terminal ao lado de seus ativos e glamurosos genitais.

Os caras da Lei Seca deveriam fazer uma blitz nos hotéis nos quais se hospedam as tripulações, pouco antes de partirem para o comando de seus voos...

O fato é que comandantes de aeronaves trabalham muito e ganham pouco. As jornadas são absurdas, para a responsabilidade imposta ao cargo. E no caso do A330 (pioor no A350 E NO A380), por mais heroicos que sejam, sua ingerencia é limitada.

Mesmo bem treinado em emergências, no simulador, um piloto de A330 nada pode fazer se a aeronave perde o controle.
Os computadores assumem tudo. Ja vimos isso de perto, aqui em São Paulo (A320).


E semana passada uma turbulência fez um destes brinquedos de voar europes machucar 21 pessoas em voo da TAM vindo de Miami, muitos com fraturas sérias.

Projetado pelos europeus para ser mais barato, carregar mais gente e carga e gastar menos combustível, o A330 não pode se deixar levar pela razão humana. Ele é exato. Digital. 0 ou 1.

Não que eu seja purista, mas eu gosto da sensação e conforto que me traz enxergar dois manches tradicionais na cabine de um Boeing. Gosto de Boeings. Se eu pudesse, não voaria de Airbus.


- Pelo menos ele tentou me salvar, penso, agarrado ao meu salva-vidas laranja, lamentando o infortúnio do piloto e já ensaiado meu voice-over, sorumbático e fora de sincronia, para um documentário do Discovery Chanel.

No Airbus não tem jeito. São dois joysticks, como os de video game. A ligação com as superficies que fazem o avião voar são meramente digitias. Isso, Como esse teclado e seu mouse.

E você já deve ter percebido como os humanos costumam errar ao digitar...Mas o A330 não tem Maçã+Z nem Control+Alt+Del.



Minha mãe e minhas sobbrinhas são clientes desse voo da Air France, que sai do Brasil as 19h00. Nos últimos três meses fizeram esse trecho quatro vezes. Coisas de família que mora longe. MInha irmã mais velha e seus três filhos moram em Paris.

Não tem jeito, nem baldeação em Deodoro para o ramal Japeri. A solução é encarar o Galeão algumas vezes por ano.

Pelas estatísticas do setor aéreo, mais um trecho ainda em 2009 e entraremos no grupo de risco. Não é emocionante?

Minha mãe não liga.

Aos 83 anos, diz ter pouco a perder. Mas ela é café-com-leite, manhosa nesse negócio de voar, ano passado fez voo livre e alguns anos atrás embarcou naquele teco-teco que voa sobre o Everest, a meca do ar rarefeito, que mal tem oxigenio para fazer a explosão com a gasolina, para fazer funcionar o motor e para manter pressão negativa sob as asas.

Mas eu sou paranóico. Sim, vou viajar separado, com um dos filhos ao meu lado. O seguro de vida é do Bradesco, bonzinho mesmo.

Paradoxos. Na cabine de um A330 não existe nenhum aviso do tipo `COMO ESTOU DIRIGINDO? LIGUE PARA...`


Podemos esculachar o motorista do 584, do bbuzão da CVC (no meu tempo, era Soletur) mas temos um respeito idiota pelos caras e moças de quepe e uniforme com divisas. Como se não falhassem aos nos conduzir, respirando ar reciclado por 12 horas, comendo jantar requentado a 10 mil pes, sobre milhares de quilômetros de água.



É tão bacana morrer voando.

PS - Obama, Sarkozy e Lula, além do Papa, é claro, não mandaram condolências para as famílias das centenas de vítimas dos acidentes rodoviários com transportes coletivos que aconteceram no Brasil em 2009.

Alguém sabe o motivo? Deve ser o preço da passagem, que dá caráter diplomático ao cadáver, com protocolo oficial incluido e passagem (de volta) para o céu pela agência do Vaticano.

É mesmo chique morrer voando.

UPDATE - o jornal New York Times acaba de publicar uma reportagem na mesma sintonia do texto que escrevi. Não sou o único que sabe, e fala, dos riscos de voar o A330. Quem trabalha sendo conduzido por aquela "coisa" morre de medo.

2 comentários:

  1. Morro de medo de avião também. Só tenho feito viagens curtinhas, de uma hora no máximo. Mas minha irmã pegou esse mesmo avião há duas semanas atrás. Agora tô apavorada pra ela voltar. Foi de lua de mel.
    Sei que, se for a hora, posso ser atropelada por uma bicicleta e morrer. Mas tenho pavor de pensar que posso morrer num acidente de avião!

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