sexta-feira, 8 de abril de 2011

A eterna busca pelo bode expiatório

Poderia ser a minha filha ali. Ela estudava em uma escola como aquela até o fim de 2009. Eu poderia ser um dos pais arrasados. Em hipótese alguma, por maior que fosse a dor, eu poderia estabelecer uma linha de raciocínio sã se culpasse a arma pelo que aconteceu.

Assim, vejo o clamor pela proibição da comercialização e venda de armas no Brasil como mais uma daquelas falácias, de um oportunismo torpe misturado a uma confusão emocional que induz a simplificação das coisas e à imediata “importação” de uma solução mágica para a violência inerente ao ser humano.

Gosto de armas, estudo sobre elas desde os 14 anos, manuseei desde menino a "Velha Senhora", a Colt .45 M1911, e nem por isso tornei-me um assassino serial, deputado federal, presidenta do Brasil ou assaltante de banco.

Aprecio o uso desportivo ou para defesa pessoal com responsabilidade, legalidade e coerência. Lembro que a primeira medalha Olímpica brasileira veio do Tiro.

Não defendo o porte indiscriminado, inclusive por aqueles que legalmente tem a prerrogativa de utiliza-las, como promotores, juízes, oficias de justiça e policiais mal treinados. Portar arma de fogo diariamente, com plena certeza de sucesso em seu emprego exige treino intenso e constante.

Somente devemos sacar uma arma de fogo para atirar e incapacitar um agressor igualmente armado. Para impedir a progressão de um crime contra a vida ou patrimônio.

Não se utiliza arma de fogo para intimidar ou atirar para cima, como fazem as "autoridades de segurança" aqui no Brasil quando querem dispersar multidões. Por isso não confio na capacidade de um policial brasileiro em preservar a integridade física e patrimonial de minha família.

Eu sou responsável pela minha existência. Tenho a obrigação de defender-me.

Acredito que toda família deveria educar seus filhos de forma correta sobre armas, com aspectos históricos e explicando as diferentes legislações ao redor do planeta no que concerne ao seu emprego de pessoas de bem.
Lamento que em minha residência, por consenso com a parceira, não tenhamos as armas as quais teríamos o direito legal em condições de emprego para defesa imediata. Somente eu saberia manuseá-las com precisão e destreza suficiente para assegurar nossa existência.

Assim, deposito em um telefonema ao 190 toda a minha confiança em continuar vivo e capaz de negociar com um bondoso e gentil assaltante, estuprador ou assassino da pior espécie, quando sob ataque criminoso em meu lar. Ótimo, não? Depender da eficiência do aparelho de Estado para existir.

Tal fato reduz nossa capacidade de defendermos nosso direito à vida quando sob ataque. Não o Estado não vai estar presente em toda as situações de risco. E o que faz a arma de fogo ser demonizada é a falta de educação. Vale para o caro, para a motoserra, vale para a faca de cozinha.

O rapaz que matou 12 estudantes em Realengo, Rio de Janeiro, em 7 de Abril de 2011, o fez por prazer. Se desejasse apenas exterminar, poderia ter escolhido uma arma que o fizesse mais rapidamente.
Escolheu o revólver para demonstrar destreza, habilidade, para atribuir-se um valor humano que acreditava não conseguir em sua vida social.

Repito: ele, sim, mataria com qualquer outro objeto capaz de causar dano ao ser humano. Ele calculou o impacto emocional de seus atos, saboreou cada morte, sabia a extensão e o alcance de seus feitos e a propagação dos mesmos. Ele poderia ter usado um carro alugado para atropelar todas aquelas crianças ao saírem da escola, ao mesmo tempo.


Não teria a mesma graça. Poderia ter envenenado todas, distribuindo quitutes na porta da escola. Poderia ter utilizado uma bomba caseira. Todas as soluções seriam mais fáceis e eficazes para provocar morte em massa. Mas não seria divertido. Ou seja, mesmo se a venda e fabricação de armas fosse proibida, esse crime aconteceria. De maneira igualmente sangrenta.

Primeiro, ninguém conseguir destruir ou tirar de circulação todas as armas remanescentes. Segundo, criminoso não compra arma em loja.

Países que restringem o uso de arma de fogo entre a população economicamente ativa não propuseram leis em resposta emocional a desvios de conduta que levam a massacres em escolas.

Vou usar o exemplo Britânico para ilustrar.

Ao contrário do que o péssimo texto da BBC induz a pensar (jornalistas deveriam ser obrigados a citar fontes, para que as pessoas possam ler mais e não disseminarem as besteiras que alguns escrevem - em tempos de twitter fica quase impossível difundir a informação correta depois do estrago da desinformação ter sido feito), os britânicos não impuseram a redução de armas. Eles construíram - através de políticas de controle social- uma sociedade que prescinde delas no aspecto de defesa pessoal e segurança pública.

O único grande momento da história britânica na qual o número de armas em posse da população foi preocupante foi em 1824, para limitar a circulação das toscas armas de fogo trazidas das guerras Napoleônicas. Notem que desde 1181, já existiam leis regularizando o porte de outras armas. 1181!!!!

Historicamente, a Inglaterra tem um baixo número de homicídios. Sendo assim, é natural que o número de homicídios com armas de fogo seja reduzido, se comparado a outra nações com indicies criminais diferenciados.

Na cultura britânica, com seus sucessivos atos de controle de armas, a saber em 1824, 1828, 1831, 1844, 1862, 1903, 1920, 1937, 1968 e 1997, a posse de arma pela população sempre foi vista de forma delicada. A principal razão era assegurar a disciplina de respeito à aristocracia e a monarquia. Assim, salvo em períodos de guerras e ameaças ao estado, armas eram brinquedos de ricos.

Nem a caça era estimulada entre os camponeses, e depois da revolução industrial, entre os mineiradores e o proletariado urbano. Esses deveriam virar consumidores e mão de obra, e não poderiam perder tempo divertindo-se ou obtendo recursos de maneira gratuita através da caça.

Esse cultura permeou gerações e levou a uma nação que nunca teve a necessidade de defender-se de ameaças armadas de cunho civil.

Como parte dos domínios da Coroa britânica, outros países acabaram adotando legislações semelhante. E desenvolveram indicadores sociais à altura.

E com tantos cuidados, ainda massacraram o brasileiro Jean a sangue-frio. Sintomático. Os britânicos NÃO servem como exemplo para a política de segurança brasileira.

Assim, comparar o Brasil com essas culturas é um erro grave. Aqui, sim, temos a necessidade de defendermos nosso direito à vida e ao patrimônio, sem podermos contar com a presença constante dos aparelhos de defesa que estado proporciona. Nossa legislação limita com extremo rigor quem pode portar armas. O registro é obrigatório. Os calibre permitidos são anêmicos, tanto para defesa pessoal, quanto para cunho desportivo.

Isso significa que para neutralizar uma agressão armada (e o indivíduo agressor quase sempre porta material contrabandeado, de poder de fogo superior), precisamos ser mais adestrados, usar "mais força", e aumentar os riscos inerentes a situação de defesa da própria vida e de terceiros.

A saber, todo brasileiro acima de 25 anos, com atividade econômica legalmente comprovada, munido de laudo que prove estar PSICOLOGICAMENTE apto ao manuseio de arma de fogo, devidamente habilitado em cursos de tiro de defesa e sem antecedentes criminais pode ter em casa -mediante registro na secretária de segurança e Polícia Federal-, estabelecimento comercial ou transportar de forma que não permita emprego imediato as seguintes armas:

- 2 armas longa de alma lisa - espingarda - ideal para defesa doméstica, principalmente por mulheres ou pessoas mais frágeis, com pouca habilidade em armas curtas.

- 2 armas longas de alma raiada em calibre permitido.

- 2 armas curtas, revólver ou pistola, em qualquer calibre até .380.

- Quantidade LIMITADA de munição: 200 cartuchos de caça por mês, 300 cartuchos .22 por mês, 50 cartuchos acima de calibre.22 por ANO.

Ou seja, o suficiente para treinar e manter-se apto ao emprego correto de arma de fogo para caça, defesa de patrimônio comercial ou residencial e defesa da própria vida ou de terceiros em situação que requeira o emprego de tiro.

Em tempo: desconheço assassinos que frequentem lojas de armas e façam cursos. Desconheço bandidos que comprem armas de forma legal, forneçam seus endereços e mantenham um registro ativo de suas atividades ligadas a armamentos. Quem alimenta esse mercado de armas ilegais é o contrabando. Esse sim não deve ser tolerado pelo Estado e pela sociedade civil. Mas todos tapam o sol com a peneira acreditando ser impossível fiscalizar tais praticas criminosas.

Assim, a falácia da proibição de armas e referendos propondo entrega voluntária servem apenas para tornar mais turva a questão. Alguém em sã consciência acredita que algum bandido vai, voluntariamente, entregar seu arsenal? Acredita que todas as armas obtidas nessas campanhas serão, de fato, destruídas?

Piora o fato de profissionais da mídia não esclarecerem as situações de forma lúcida. NENHUM atirador ou atiradora de IPSC ou instrutor ou instrutora de tiro foi chamado para dar declarações sobre o acontecido. Apenas pessoas da área de segurança pública, acostumadas a REAGIR e não a PREVENIR acontecimentos de natureza violenta.

Devido ao custo de munição, treina-se pouco nas polícias de todo o Brasil. Assim, não são as pessoas mais aptas a falarem sobre segurança pessoal e direito a vida. Polícia, no Brasil, é treinada para matar.

Eu não poso depositar minhas chances de sobrevivência e da minha família na mão de um PM. De um menino recém-formado pela Academia de Polícia.

Cidadão armado com competência e controle, em conjunto com atuação política que leve à melhoria de indicadores sociais poderá reverter esse quadro, levando ao um cenário no qual a arma só poderá ser usada em eventos esportivos como IPSC ou Silhuetas Metálicas.

Mas não é com hipocrisia e reações emocionais que chegaremos a uma situação melhor para todos os brasileiros.

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