segunda-feira, 29 de agosto de 2011

CANSEI DE VER O MMA EXPLORADO COMO BODE EXPIATÓRIO DA "INTELIGENTSIA" DOURADA. O PRECONCEITO NASCE ASSIM.

O MMA existe justamente para não vejamos novamente gladiadores e congeneres. Não são animais contra humanos. São pessoas medindo sua dedicação a formas específicas de combate corporal, atividade extremamente respeitada na antiguidade clássica, capaz de inspirar poetas, filósofos e artistas, mas hoje relegada a fenômeno midiático, um reducionismo maniqueísta, capaz de gerar distorções de percepcão e não favorecer uma reflexão sobre o que podemos ou não fazer com nossos corpos.
Existem regras muito claras para preservação dos atletas, são todos profissionais treinados, o UFC é extremamente rígido quanto ao antidoping e os atletas são divididos em categorias de peso, o que os coloca longe da pecha de babárie.
Foi longo o trabalho que tivemos ao longo desses anos em TV por assinatura e mídia impressa para fazermos o público entender que não se tratava de "briga de rua", de coisa de desocupados.
Eu mesmo tive dificuldade em negociar pacotes de eventos britânicos e holandeses para a divisão multimidia da Editora Abril, devido ao desconhecimento. Hoje procuram esse conteúdo avidamente.
Os eventos tiveram um período triste nos anos 80 e 90, quando a rivalidade entre academias na cidade do Rio de Janeiro prejudicou a difusão das artes de combate como uma forma saudável de educação física.
Hoje regulamentados, exigem que um atleta seja preparado de forma adequada e consciente. As relhas e narizes tortos são apenas cartilagens que se deformam, não diferentes daquelas deformidades de qualquer trabalhador braçal(um bom exemplo é o ombro do vendedor de biscoito Globo - ah, ok, não enxergamos mesmo ele, o homem-invisível, translúcido, das inteligentes e nada beligerantes areias cariocas) foi mal), ao até mesmo das delicadas e cultas bailarinas, que deformam seus corpos em prol de uma breve carreira, nem sempre de sucesso ou qualidade artística. O mesmo posso falar de maratonistas, remadores, futebolistas, tenistas e pilotos de corridas, todos levando em seus corpos marcas de deformação física em busca da excelência em sua áreas.

As lutas sempre foram transmitidas. Apenas do UFC são 134 eventos ao longo da história. Se contarmos o Pride e outras organizações menores, a "educação" para as artes de combate levou muito tempo e ainda não chegamos ao mesmo nível de Inglaterra, Holanda, França, Rússia, Japão e EUA em termos de mobilização popular e formação de torcedores com conhecimento das regras e limites desportivos.
Em tempo: não tivemos nenhuma morte ou atleta incapacitado para a vida normal em 17 anos de UFC ou Pride, ao contrário da Fórmula 1, do atletismo, do inocente e saudável running, do motocliclismo, do futebol, da Stock Cars, do surfe, do turfe, do ciclismo, e para efeito de comparação direta, até mesmo no boxe profissional.
Muitos dos que hoje reclamam do "sucesso" do MMA (apenas 13 pontos de audiência, no pico da transmissão), paravam para assistir quando um Sr. chamado Mike Tyson estava no auge, em longas noites na líder de audiência da TV aberta. Bares paravam, e homens e mulheres comentavam com propriedade os momentos da luta, além de vibrarem com nocautes.
Façam esse exercício de "mea culpa" e resgatem essa memória recente: até o rapaz morder orelhas e agredir mulheres -comportamentos nada correlatos ao esporte-, era um dos mais queridos heróis internacionais.
Naturalmente, para alguns pode ser de gosto duvidoso, mas está muito mais distante de ser uma atividade capaz de incitar atos violentos fora da área de combate do que um JN mostrando mentiras sobre os conflitos nacionalistas no mundo, com sangue e mortes sem palavras, apenas para fins de composição de 40 segundos jornalísticos. Para não falar das mazelas de nosso tecido social, da violência não-gráfica do preconceito, da segregação e da pouca ou nenhuma compreensão das diferenças.

3 comentários:

  1. Felipe, vi este vídeo... e a mulher que aparece fazendo a denúncia é minha amiga e trabalho com ela... lembrei de quando cai no seu blog sobre o que rolou com suas filhas... triste ver a cena se repetindo dia após dia http://www.youtube.com/watch?v=OVcCBHp6lwU&feature=colike

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  2. Thais,

    boa tarde. É com profundo pesar que vejo mais uma vez esse tipo de ocorrência acontecer no Rio de Janeiro. Não bastasse o constrangimento, ainda somos tratados com olhares de dúvida quanto a nossa conduta ao fazermos a denúncia.

    A polícia sempre tenta colocar panos quentes, forçando a barra com "injúria racial", para não terem que idar com a complexidade burocrática do indiciamento por racismo.

    Temos uma longa batalha pela frente e me solidarizo com essa senhora e na sua lut por justiça.

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  3. Verdade, Felipe,

    É triste ver como a humanidade caminha a "passos de formiga e sem vontade".

    Mas vamos continuar com a luta sempre porque os bons não podem se calar diante dos maus.

    Marcelle já disse que vai até o final com o processo. E tem que ser assim sempre: ser chamada de "negra macaca" é uma ferida, uma dor que sem dúvida ver a agressora ser liberada ao pagar uma fiança de míseros 3 salários mínimos só gera indignação e fica o sentimento da impunidade... não dá pra continuar assim.

    Vamos que vamos!

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