quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

de olhos bem abertos



não sou careta. estou longe de ser moralista. aprecio a liberdade de expressão.

como homem midiático, já faz muito tempo que abandonei a ingenuidade de acredtitar em informação oferecida pelos grandes veículos de comunicação.

como pai, verifico cada link em que minha filha navega, em sua hora diária de internet.

mas não basta. quem gosta de disseminar a burrice o faz de forma cada vez mais sofisticadae cruel.

hoje recebi, logo pela manha, fotos forenses da menina que foi esquartejada em Curitiba.

não foi apenas uma foto. foram diversas, com toda a precisão anatômica dos cortes.

o rosto (a cabeça separada) em close, em várias das fotos.

os trajes que ela vestia ao morrer, cuidadosamente arrumados, como naquelas bonecas de papel.

quem disseminou essas imagens pode ser considerado um ser pensante?

um ser digno de ser considerado digitalmente incluído?

não mereceria o mesmo destino e pena de quem perpetrou o crime?

a pessoa em questão é um profissional de mídia, que trabalha para a Rede Globo.

sabe que cometeu crime previsto no estatuto da criança e do adolescente.

pode ser preso.

vai alegar inocência, vai dizer que apenas repassou as imagens como curiosidade.

triste.

triste, mas exemplifica bem quem são as pessoas que redigem as matérias que você, diariamente, lê nos supostos melhores jornais do país.

garotada classe média sem preparo. sem leituras. sem conhecimento. uma corja que os donos de jornais adoram. não reclamam. a boca está adoçada com as entradas grátis para as baladas, restaurantes e bocas-livres. com os prêmios e brindes oferecidos pelos anunciantes (tabu: ninguém confesa que adora ganhar celular de presente das operadoras...ou viajar "na faixa" para os lançamentos de produtos no exterior).

gente que fica feliz, quando recebe o "corte" do dia, feito pela publicidade e pelo marketing. o que sobra de espaço depois dos anúncios comercializados e matérias pagas é que estará disponível para a informação relevante.

diversas vezes vi redatores e repórteres comemorarem a carência de espaço editorial. poderiam, ufa, escrever menos.

pensar, refletir, questionar e fazer entender nosso tecido social é supérfulo nas principais redações brasileiras.

isso vale também para aquelas caras revistas mensais e semanais que você assina ou compra nas bancas.

formar opnião, hoje em dia, é equivalente a anestesiar cérebros. tocar o rebanho. jornalistas são pastores de ovelhas.

é consumir o sensacionalismo da tragédia e ser educado para sentir-se culpado pelo infortúnio alheio.

aconteceu novamente, agora com as chuvas em santa catarina.

minha filha, ficou impressionada. procurou imagens, por sugestão da professora. em sua ingenuidade, pediu-me para imprmir uma foto da casas submersas. a foto era do crime de Nova Orleans, cuja a culpa foi imputada ao furação de força desproporcional.

nada de explicar o motivo do acontecimento. a falta de preparo urbanistico e a carência de inteligência na gestão ambiental e na construção civil.

o que lhe foi oferecido é unidimensional. choveu, muita gente perdeu tudo na enchente. agora precisam da SUA ajuda. e tome números de contas bancárias, sem a menor garantia de que os recursos serão destinados a recuperação da região afetada.

e nossos impostos? eu já paguei pela tragédia. não preciso pagar novamente.

pois bem. cadê os professores para explicarem os motivos de tamanha enchente, 25 anos depois da região ter vivido o mesmo problema? os professores não sabem. tudo o que bostejam para os alunos foi o que conseguiram resumir dos textos mal-pesquisados de veja, época e outras publicações da mesma natureza.

perdem as crianças, vitimadas pela cultura do medo e da culpa. perdem os adultos, que insistem em assistir ao jornal nacional, como se fossem encontrar alguma informação relevante para o seu futuro em matérias editadas de 40 segundos de duração.

tentem explicar a operação farsesca em Mumbai, índia, em 40 segundos. tiros ao vivo. todos comentam nas ruas, ônibus, metrô. sequer imaginam como é a cultura local e suas intrincadas características. choram pelos ricos mortos e ignoram a existência do sistema de castas.

pior. a morte de um dos 300 homens mais ricos do mundo, vitimado por tiros, rendeu mais linhas do que a mulher grávida baleada na cabeça no Rio de Janeiro.

garanto que a maior parte dos leitores teve seu cotidiano mais afetado pela morte da mulher. mas choraram mais pelos mortos de munbai.

ficaram presos na equação "número de mortos X espaço de tempo". mais gente morre de forma cruel no Brasil. muito mais.

não interessa. afinal, eles moram na favela ao lado, e não estavam hospedados no hotel mais luxuoso de Mumbai.

poxa, gastaram tanto dinehiro para morrer assim?

meus coleguinhas jornalístas, na casa dos 20-30 anos, já arrumaram culpados, já encomendaram infográficos impressionantes (e repletos de erros históricos e geográfios) sobre os ataques "terroristas", e pior, já elegeram os heróis.

sim, uma vez que massacre, tragédia ou cataclisma sem heróis não rendem audiência, não dão "suite" ou rendem um número considerável de leitores.

basta traduzir um feed da reuters, da cnn ou da AFP e pronto. ufa, como trabalhei hoje!!!!

reprodutores de "fatos".

cadê o repórter curioso que poderia pedir para o seu editor uma passagem para tentar entender o acontecimento in loco?

não, dá muito trabalho. melhor publicar a traducão do texto redigido pelo estagiário da Reuters, ignorante sobre os acontecimentos na ásia...pô, marquei pelada e chope hoje!!!

a mesma garotada que escreve sobre a falta de fiscalização da lei seca, bate ponto depois do expediente no bar folhão, no estadão (belo pernil...), no filial e no hipódromo, na gávea. e tome cocaína com chopinho...

depois, pegam seus carros 1.0 comprados em 72 prestações e tornam-se candidatos a assunto da página policial, no dia seguinte.

são os mesmos que acusam de corporativistas as forças de segurança, mas que são incapazes de colocar os coleguinhas criminosos ou contraventores sob o holofote do jornalismo.

na folha, escrever pouco significava menor chance de errar, assim a premiaçnao que rende uma viagem para a europa, paga pelo jornal, para os melhores de cada editoria não fica comprometida

sim, os erros são cumulativos, e se um colega arrisca mais para informar melhor, pode prejudicar o preguiçoso conformado que será premiado.

não é diferente nos outros veículos que bonificam a obrigação de ser correto. todas as grandes redacões do país sofrem com o medo de informar e a moçada que está entrando agora no mercado de trabalho, principalmente aqueles que conseguem entrar para os "cursos de jornalismo" oferecidos pelos veículos mais imortantes, são adestrados para cumprirem sua missão de não fazer os jornais perderem dinheiro (anunciantes).

já se perguntaram o motivo de existir um jornal para cada perfil sócio-cultural?

liberdade de expressão?

não.

adestramento.

um país que brinca de falar em inclusão digital, mas que cria apenas novos consumidores de mídia eletrônica e de comércio eletrônico. casas bahia online. enforque-se em até 10 vezes,com juros.

não estimulam ninguém a produzir conteúdo. basta uma olhada no orkut e no youtube para ver a contribuição do cidadão brasileiro ao universo de informação digital.

e piora. alguém já leu nos principais jornais internacionais alguma matéria sobre as exigências exóticas de astros brasileiros no exterior? aqui ainda gastam laudas sobre as toalhas e a comida que a madonna pediu.

estudaram quatro anos para escrever sobre o paladar da madonna. certo. e nós pagamos por essas publicações.

estimulem seus filhos a escrever sobre o mundo. sobre eles. sobre as suas percepções do cotidiano.

estimulem essas criancas a não serem meros consumidores de conteúdo.

verbalizem que só existe inclusão digital quando sua participação online modifica a vida de outro ser humano.

o porteiro e a empregada terem e-mal não é inclusão digital.

laptop nas escolas do Rio de Janeiro não é inclusão digital.

acesso a internet comunitário, sem monitoria para a producão de cultura não é inclusão digital.

um presidente como o Lula, marionete que ignora a inteligência de milhões de brasileiros ao proferir e sustentar idioticessócio-político-econômicas, não pode estimular a inclusão digital.

é sandice.

continua...