quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Parto domiciliar NÃO MATA! Ignorância e jornalismo irresponsável, sim.

Entendam: quem faz o parto é a mulher. Não é o médico. O bombeiro. A parteira. O taxista. O Herói masculino. Todos ajudam. Mas quem faz o parto é a mulher. Assim, fica mais fácil entender a grande besteira publicada no Globo.com no dia 01/02/2012. Caroline Lovell
, defensora do parto humanizado, morreu ao dar a luz. Ela vive na Austrália, país com ótimos índices sociais, mas ainda tão capenga quanto o Brasil e o Chile (tristes recordistas mundias de cesarianas eletivas) na questão do parto, com um índice de 21% de cesarianas eletivas no sistema público de saúde. O indice aceitável, de acordo com a Organização Mundial de Saúde é de 15%. No Brasil, o número de cesáreas no SUS está em 40%. Na medicina privada, 90%. Os planos de saúde praticamente obrigam os casais a concluírem a gestação em um hospital. Quando sabemos que no Brasil 80% das mortes de mães e bebês no pós-parto são provocadas por infecção hospitalar pós cesariana, o alarme precisa ser ligado. Assim, o Daily Mail, um jornal conhecido por apoiar causas corporativas em detrimento da isenção editorial, publicou uma matéria sensacionalista, que foi replicada pela Globo.com, com sempre sem a devida contextualização.
Ora, a maioria dos leitores de manchete de portal mal conhece a idoneidade das fontes e não tem tempo ou interesse em aprofundar-se. Se foi publicado, muita gente vê como verdade absoluta. Assim, quando o "jornalista" não dá o "outro lado", fundamental para que se forme opinião consciente e isenta, a moça australiana que morreu fica parecendo uma radical inconsequente. Não pode existir erro maior. O número de mulheres e bebês, oriundos de TODAS AS CLASSES SOCIAIS, que morrem devido a complicações de cesarianas eletivas é ABSURDAMENTE maior do que o número de mulheres e bebês que morrem em partos domiciliares. Um portal sério mostraria os indices de morte de mães durante o parto durante e após cesarianas comparando com os índices de mortalidade em partos humanizados. Chocaria aos mais sensíveis e inteligentes o açougue insalubre no qual as maternidades, mesmo as mais chiques, foram transformadas. A infecção hospitalar, com agentes patogêncios resistentes aos antibióticos mais fortes, é a maior causa de mortes de mães e bebês no parto e pós-parto de cesáreas. Em casa, não existem esses microorganismos que provocam as infecções hospitalares mais resistentes. Nos países onde saúde da mulher, cidadania e saúde pública são levados a sério, a opção pela cesariana inconveniente não é considerada como saudável. Quantos mais partos naturais e fora do ambiente hospitalar, mais desenvolvido socialmente é um país. Quanto a segurança do parto domiciliar, inclusive para mulheres que fizeram uma cesariana na primeira gestação, pode ser atestada por esse estudo canadense. Leiam com carinho, dediquem um tempo para adquirir informação de qualidade, principalmente se estiverem em processo de pensar em gestação e parto. No país onde a nova classe média copia as práticas sociais das classes mais abastadas é preciso ficar atento ao que os meios de comunicação publicam para, pelo menos, tentarmos equilibrar as informações erradas e tendenciosas com conteúdo de qualidade e referências que possam ser entendidas por uma parcela maior da população. Parto natural é bom e saudável. Jovens mães precisam de informação direta e desmistificada sobre como ter seus bebês sem drama, como enfrentar médicas e médicos que inventam posições esdrúxulas quem impediriam o parto normal. É preciso acabar com o terror médico colocado como pressão sobre a gestante. O mesmo vale para romper o mito criado pela industria farmaceútica de que algumas mulheres não produzem "leite bom" ou não podem amamentar. Mesmo que você tenha mamilo invertido, você vai poder amamentar, porra! Vai doer pra caralho, vai ser incomodo, mas deixar seu rebento livre de doenças e bem nutrido, de graça! Se vocês soubessem a quantidade de mulheres que faz a opção de cesariana eletivas para permanecerem "apertadinhas" ficariam chocados. Mais um mito: que o parto natural e a amamentação "estragam" a mulher. E isso em 2012. Temos muita coisa para melhorar em termos de educação social da mulher. A igualdade social passa pelo DIREITO de escolher a opção mais simples para o nascimento de um filho. Maridos e maridas, apoiem suas mulheres nessa escolha.

2 comentários:

  1. Uma pena, ela pelo jeito teve um ataque cardíaco durante o parto. Talvez mesmo estando num hospital, o destino dela seria morrer de ataque cardíaco.

    Perdi meu filho por descolamento prematuro de placenta, ninguém teve coragem de fazer um parto natural na minha segunda gravidez, nem mesmo uma amiga que é parteira e faz partos em casa.

    Se engravidasse outra vez, eu tentaria um parto em casa sim.

    Minha irma quase morreu de infeccao pos-cesária, foram quase 2 meses de UTI e 6 de recuperacao.

    E sim, leite materno amamenta e supre tudo, até mesmo depois de 6 meses. Aqui na Alemanha, onde moro, ainda é permitido fazer propaganda para leite em pó para bebês, fico irada com isso!

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  2. Oi Marcia,

    Minha primira filha nasceu numa cesarea que acabei acompanhando (fomos enganados e minha mulher exigiu minha presença nasala). Nossa segunda filha nasceu em casa, depois de muita luta contra a turma que apoia o corte irrestrito de sete camadas de tecido muscular. Hoje sabemos como é importante orientar as novas mães para que tenham o direito de ter um parto humanizado e amamentar respeitados.

    Um beijo

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