segunda-feira, 18 de junho de 2012

Cesariana desnecessária em massa: o Brasil na lanterna mundial da civilidade em saúde pública

Não gosto de marchas. Nenhuma. Acho chato e atrapalham quem não tem interesse no assunto, ou por que exercem o direito de cultivar a própria ignorância ou por não necessitarem lidar com questões de esfera incompatível com suas necessidades cotidianas.

Dito isso, fica mais fácil dizer: países civilizados apoiam o parto domiciliar, mesmo após a primeira gestação.

Países primitivos, nos quais o corporativismo supera os benefícios de uma noção humaniária de saúde pública, apostam em cesarianas em massa.

Lucrativas e rápidas, chegam travestidas com o rótulo da conveniência, da "liberdade de escolha" da mulher e outras loas. Mas sabemos que não são todas as mulheres que, de fato", podem escolher. Para a maioria, ceder à cesariana é compulsório.

Bebês não são melhores ou piores filhos se chegam de um jeito ou de outro. Se amados pelos pais, está valendo.

Mas o recado sobre parto domiciliar ser um DIREITO não é para as esclarecidas que se sentem agredidas por não serem respeitadas em sua opção pela cesárea eletiva.

No Brasil, desde os anos 70, surgiu a cultura equivocada de que parto normal é "coisa de pobre", "coisa de índio".

Dá para perceber o estrago feito nos últimos 40 anos. Ter o parto igual ao da "patroa" virou algo quase obrigatório. Sim, como o vestido da novela que vira moda.

O problema é que existe um número imenso de mulheres influentes que não percebe como seu modelo pode não ser adequado para mulheres que ainda não dominam a própria intelectualidade, a ponto de não poderem dizer "não" a um médico que mais do que recomenda, obriga mulheres a fazerem cesarianas desnecessárias.

Existe uma indústria: cirurgões plásticos, anestesistas, obstetras, que fatura alto com a linha de montagem do bisturi. Eu fui vítima desse tipo de medicina canhestra em nossa primeira gestação. Não nos respeitaram.

Na segunda gestação nos libertamos e fizemos o parto domiciliar, humanizado.

Amo igualmente minhas duas filhas. Não é uma guerra de  "estilos", preferências ou modismos. É uma constatação que foge à realidade da maioria das mulheres de classe média e classe média alta: as condições hospitalares para a maioria das gestantes do país, de baixa renda, trazem riscos BRUTAIS para mães e bebês.

As casas dessas mulheres são muito mais seguras do que salas de parto em nossa rede hospitalar de acesso ao cidadão comum.

Espero que Austrália, Chile e Brasil um dia consigam vencer essa maldição que os coloca na condição de triste liderança mundial na indústria da cesariana conveniente para o sistema médico.

4 comentários:

  1. sabe o que falta: propagar os dados de infeccoes hospitalares "pós-sectio" no Brasil.
    daí quem sabe as mulheres acordam!

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  2. São mais do que alarmantes as conclusões que extraimos desses dados. A situação é quase criminosa. É preciso rever com urgência a maneira como a medicina brasileira mercantilizou o ato de nascer.

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  3. Eu moro na Inglaterra e toda vez que falo que tive minha filha de parto na água em hospital pra alguma brasileira, a pessoa espera que eu me justifique do porquê de eu não ter tido uma cesárea. Ora, é bem ao contrário. Diga-me você qual foi a emergência que levou a uma cesárea!
    Não entendo como pode um médico dizer pra uma mulher que seu filho precisa nascer de cesárea quando no seu íntimo sabe que não há indicação nenhuma para isso, a não ser a sua própria comodidade. Como convive com esse cinismo? E o juramento que fez na sua formatura? "A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação(...)"

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  4. Ana,

    Boa noite.

    Você entendeu perfeitamente onde quero chegar: gerações educadas para acreditar em médicos e achar "natural"que o parto cirúrgico seja uma opção de conveniência. O mais triste é que as mulheres mais educadas e com melhor formação intelectual que optam pela cesárea de conveniência acabam influenciando mulheres menos articuladas, perpetuando essa aberração.

    Um beijo e obrigado por ler.

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