Tenho pensado muito em mei pai. sonhei com ele dia desses. tinha vindo em nossa casa, visitar as netas (não chegou a conhece-las). eu o abracei e disse que estava com muita saudade.
meu pai morreu em 1997, após lutar contra um cancer no abdomen implacável. morreu sofrendo, com dor. não fui ao enterro. odeio enterros.
desde então muita coisa aconteceu em minha vida, sendo a mais importante delas o nascimento de minhas filhas. e só então comecei a entender muti do que meu pai dizia e fazia.
descobri que sou parecido com ele. o que traz um certo conforto, apontando rumos que posso ou não tomar. que agora sei que posso escolher entre ser normal ou ser feliz.
quando eu nasci, meu pai já tinha 51 anos.
cultivava algumas amizades, era popular. em casa, autoritário. teve dificuldades com filhos libertários. primeiro, minhas irmãs mais velhas. depois, eu.
mas nunca deixou de nos amar, de nos apoiar, ainda que relutasse em aceitar nossos acaminhos e escolhas. era um homem muito inteligente e surpreendente. versado nas ciências do ocultismo, mestre maçon grau 33, quiromante e tarólogo. o mesmo cara que fora um herói de guerra, um advogado tardio, um corretor de imóveis, um comerciante e “professor pardal” em eletrônica.
o cara que me ensinou a dirigir, ainda moleque. que era capaz de sacar sua Colt 45 em discussões de trânsito. que levava toda a família para conhecer lugares distantes ao volante de nossa fumarenta Vemaguete com bancos vermelhos.
o cara que dirigia 200 quilômetros só para ver o filho quase afogado em uma sessão de surfe nas ondas violentas de Saquarema. o cara que recomendou que eu não exagerasse nas minhas masturbações pré-adolescentes, depois que, na véspera de uma viagem de férias, eu sai de um demorado sumiço no banheiro com o membro parecendo o personagem do filme O Homem Elefante. o cara superprotetor, mas que me deu uma moto quando moleque e quando fiz 18 me tirou o direito de usar veículos automotores. o cara que sabia que as mulheres seriam a maior fonte de distração de minha vida.
um mistério, o Seu Manoel.
mas hoje, é fácil lembrar dele como meu amado pai.
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