Essas últimas semanas tiveram o noticiário recheado de matérias sobre casais expondo seus filhos publicamente devido a problemas em suas condutas erótico-afetivas.
Uma preocupação comum em quem não adota o modelo monogâmico em seus casamentos é que as outras partes envolvidas tenham a mesma preocupação em manter o sigilo e o cuidado que as relações atípicas requerem.
Os homens, de forma geral, acabam comentado com alguém suas aventuras e suas conquistas. Algumas mulheres não agem de forma diferente ou com menor cuidado. O resultado do descuido pode ser uma exposição indesejável e pública de suas práticas íntimas.
Eu procuro deixar claro que não sou monogâmico. Não faço alarde nem apologia comportamental, mas tenho pouca paciência para lidar com hipocrisia. A parte chata é que nem sempre a outra parte envolvida tem liberdade ou transparência em suas relações. Isso acarreta em muitos desencontros quanto as intenções.
Vivenciamos um envolvimento intenso com uma mulher casada e popular no meio blogueiro. COm o agravante de estabelecermos uma relação de amizade entre as famílias. Evidentemente, havia intensidade erótica e estimulante baseada na premissa de que o cônjuge dela não sabia de nosso envolvimento. Contribuindo para o desastre, o bom e velho vacilo de manter registros de conversas digitais apimentadas, para lembrar depois (um erro básico).
Sim, nós homens e muitas mulheres apreciam esse jogo dúbio, de recriminar, mas brincar com o mito da traição. O problema surgiu quando eu passei a ser o responsável pela manutenção do segredo, uma vez que que sua prole poderia ser prejudicada caso o marido descobrisse.
Não seria totalmente descabido se eu fosse o único amante (como eu, ingenuamente, acreditava).
Não. Eram vários os amantes, mas apenas eu tinha o compromisso de manter o sigilo.
Não tenho problemas em deixar claro em minha estrutura familiar que namoramos outras pessoas, Mas com a história vivida, aprendi que, na medida do possível, é preciso averiguar se a outra parte tem as mesmas premissas de vida, de transparência em suas relações.
Longe de mim querer expor os filhos alheios ao escárnio público dos falsos moralistas. Mas não acredito ser justo engolir minhas verdades para ser guardião da mentira alheia.
Minha dica é: se quiserem brincar de viver sua sexualidade de forma livre, certifiquem-se de que os prováveis parceiros -principalmente se tiverem filhos-, estejam em sintonia quanto a forma de abordar a questão caso a relação seja revelada ou descoberta pelos filhos, parentes e amigos.
Manual de sobrevivência ao escândalo:
1) se descoberto, não negue. Tome as rédeas e afirme sua identidade no discurso.
2) se seus filhos tiverem idade para compreender, converse. Elabore o que vai dizer e assegure seu direito de viver sua sexualidade como quiser.
3) parentes tendem a julgar mais do que estranhos. Imponha limites claros a invasão. Para evitar a fofoca generalizada, proponha uma conversa aberta, sem acusações ou suposições. A vida e práticas sexuais do casal dizem respeito apenas ao casal.
4) se algo saiu da esfera pessoal e tornou-se público, mantenha a calma e não tente atitudes desesperadas de "limpar seu nome". A propagação é inevitável e diretamente proporcional às tentativas de apagar seus rastros. Assuma.
5) não produza provas contra você. antes e depois do problema. Acredite: nenhum vídeo, foto, texto, conversa em celular ou telefone fixo, torpedo e afins é seguro. Nenhum. Se você fez um vídeo de teor erótico e seus filhos já usam a internet é questão de tempo até terem contato com sua imagem "escondida". O mesmo vale para casais que utilizam sites de relacionamento para adultos ou frequentam ambientes liberais,como casa de swing e festas privadas. Alguém, sempre, vai registrar sua imagem e não adianta culpar os outros pela violação da sua privacidade.
6) um erro grave é achar que nossos filhos não tem interesse em assuntos sexuais ou práticas extremas. Se eles descobrirem de forma a sentirem-se traídos (o ciúme e repulsa em relação as sexualidade dos pais já existe mesmo que seja uma relação de monogamia tradicional), estabeleça o emprego de todos os recursos para recuperar a confiança deles. Isso inclui a ajuda de profissionais ligados a comportamento, como psicólogos e terapeutas familiares. Abandoná-los a própria sorte não trará benefício algum a nenhuma das partes envolvidas.
7) Nunca prometa que não repetirá suas práticas, sob pena de comprometer ainda mais a relação de confiança. Seja verdadeiro: se faz parte de sua existência um comportamento sexual diferente e particular, assuma. Não é preciso descer aos detalhes, mas mostre-se pleno no direito de viver sua vida de acordo com suas crenças.
8) Procure auxílio jurídico/legal se estiver sendo pressionado ou chantageado. Nunca negocie uma extorsão.
9) caso a ocorrência chegue ao ambiente profissional, não espere as diversas versões tomarem corpo. procure seu chefe direto e o departamento de recursos humanos da empresa para unificar a versão e seu posicionamento quanto ao ocorrido. Se você não feriu a lei ou as normas da empresa, aqueles que o colocarem em situação vexatória é que poderão sofrer algum tipo de advertência.
10) viva e deixe viver. Todos nós temos telhado de vidro. Evite atirar a primeira pedra, para que ela não se transforme em um bumerangue.